Lбgrimas escorrem-me cara abaixo.
Fogem dos meus olhos, indiferentes ao que as motiva.
Sinto o sal do seu tacto,
Em cada uma que se desfaz nos meus lбbios.
Hesitantes, recesosas, deslizam cuidadosamente pela minha face.
Num gesto automatizado, limpo as lбgrimas do rosto.
Com um suspiro, enxugo o vermelho dos olhos.
A humidade e a dor evaporam-se, absorvidas pela pele.
Nгo hб lбgrimas puras, ou se as hб, sгo raras.
Formadas por pequenas molйculas de уdio, despeito, inveja e ciъme.
Adulteradas pela nossa vivкncia, recheadas de incoerкncia.
Numa hipуcrisia que selecciona as gotas que legitimam a nossa dor.
Por vezes, numa prбtica egocкntrica de solidariedade com os outros;
Noutras, num egoнsmo social de solidariedade com nуs prуprios.
Talvez hajam lбgrimas puras, mas й mais fбcil dizer que nгo
Ainda hб uma rйstia de sonho para iludir a realidade.